O avanço econômico de Itajaí está em rota de colisão com um desafio estrutural: enquanto surgem milhares de novas vagas de emprego, a escassez de moradias acessíveis e próximas ao trabalho ameaça frear o desenvolvimento sustentável da cidade. Esse foi o ponto central da plenária “Moradia x Mão de Obra”, promovida pela Associação Empresarial de Itajaí (ACII) nesta segunda-feira, 15 de julho, reunindo empresários, lideranças comunitárias e representantes do poder público.
Participaram do encontro os secretários municipais João Paulo Kowalsky (Desenvolvimento Urbano e Habitação) e Gabriela Kelm (Desenvolvimento Econômico), além da presidente da ACII, Thaisa Nascimento Corrêa.
“Essa aproximação entre o poder público e a iniciativa privada é fundamental para que possamos identificar gargalos e construir soluções conjuntas”, destacou Thaisa. “É visível o esforço do município em promover políticas públicas que ampliem a oferta de moradias e qualifiquem a mão de obra. Nosso papel é fomentar esse diálogo para que o crescimento de Itajaí continue, mas com sustentabilidade e inclusão.”
Itajaí cresce rápido, mas sem casa suficiente
A cidade registra, em média, 10 mil novos postos de trabalho por ano, mas enfrenta um déficit habitacional de cerca de 15 mil moradias, conforme revelou Kowalsky.
“Itajaí cresce rápido demais. A cada 24 horas, são 34 novos moradores e, com isso, a demanda por cerca de 34 novas casas diárias”, alertou o secretário.
Atualmente, 10 loteamentos estão em análise com potencial para 4 mil novos lotes, além de projetos habitacionais nos bairros Santa Regina, Itaipava, São Roque e Espinheiros. Entre os destaques está o Projeto Tibério Testoni, com mais de 370 unidades, e novas frentes no bairro Cidade Nova. A prefeitura também analisa um “choque de oferta de terra”, com foco em acelerar licenciamentos e estimular construções por meio do programa Minha Casa Minha Vida, especialmente na faixa 2 (imóveis até R$ 350 mil).
Faltam pessoas capacitadas — e com onde morar
A secretária Gabriela Kelm destacou as ações do município para qualificação profissional. O próximo Feirão de Empregos deve reunir mais de 5 mil vagas, com entrevistas diretas e contratações imediatas. Por meio do programa Qualifica Mais, já foram oferecidas bolsas de estudo para mais de 50 alunos, com 74 cursos previstos em parceria com o Sistema S (Senai, Senac, Sest, Senat), moldados sob demanda do setor produtivo local.
“A empresa diz o que precisa, e a gente monta o curso. Mas precisamos que as pessoas morem perto desses empregos. A mobilidade entre os extremos da cidade é um desafio diário para quem cruza a BR-101 de bicicleta ou moto elétrica para trabalhar”, enfatizou Gabriela.
Projeto Vila Empreendedora: moradia vinculada ao emprego
A plenária também apresentou o Vila Empreendedora, projeto habitacional em estruturação com 400 unidades de aluguel subsidiado (entre R$ 800 e R$ 900), destinadas a trabalhadores de empresas locais. A proposta inclui infraestrutura urbana e serviços públicos essenciais.
“Não adianta só entregar casa. A vila terá comércio, creche, escola, área de lazer — tudo o que o trabalhador e sua família precisam. Quem perder o emprego, perde também o direito à moradia no local”, explicou Gabriela. O modelo será viabilizado por meio de Parceria Público-Privada (PPP).
Regularização fundiária como solução
Kowalsky também destacou o avanço da regularização fundiária, com mais de 4 mil lotes mapeados. Um caso emblemático é o prédio abandonado há 35 anos no bairro São Vicente, que será demolido para dar lugar a um novo conjunto habitacional.
“Temos um passivo social grave ali. Queremos transformar esse problema em uma oportunidade”, afirmou o secretário.
Alerta: risco de perder competitividade
Para os secretários, o momento é decisivo.
“Se não unirmos políticas de habitação e de qualificação, corremos o risco de perder competitividade para municípios vizinhos”, advertiu Gabriela.
“A força do setor privado é essencial, mas cabe ao poder público criar o ambiente para que esse investimento aconteça com foco em moradia acessível e perto do emprego”, completou Kowalsky.
“Temos uma cidade em transformação. O diálogo entre empresários e gestores públicos é o caminho para garantir que o desenvolvimento de Itajaí beneficie também quem vive e trabalha aqui todos os dias”, concluiu Thaisa Corrêa.
Panorama Econômico de Itajaí (Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Econômico – 2024)
Empresas ativas: 60.977
Novas empresas (12 meses): 9.790
Encerradas: 1.754
Bairros com maior abertura de empresas:
Centro: 1.700–1.800
São Vicente: 1.100–1.200
Cordeiros: 1.000–1.100
Fazenda: cerca de 800
Cidade Nova: cerca de 600
Empresas MEI x Outras categorias:
MEI: 44,5%
Outras: 55,5%
Empregos formais por setor (RAIS 2024):
Serviços: 67.381
Comércio: 28.933
Indústria: 21.253
Construção: 6.133
Agropecuária: 1.243
Saldo de empregos (12 meses):
Admissões: 85.269
Desligamentos: 80.152
Saldo positivo: +3.213 empregos
Outros dados:
Crescimento de postos (2023–2024): +11.447
Remuneração média real: R$ 4.015,02








