Um espaço de diálogo voltado para a formulação concreta de mecanismos de financiamento internacional que permitam ao planeta conter o aumento de 1,5°C na temperatura — nível considerado pela comunidade científica como o limite para evitar os efeitos mais severos da crise climática. É isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera da COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA).
“Nós vamos fazer uma COP séria. Nada de festa excessiva, e sim debate e reflexão. Teremos um encontro exclusivo com chefes de Estado, dois dias antes, para aprofundarmos a discussão. Temos um enorme compromisso com a COP. Será um novo marco na questão ambiental”, afirmou Lula neste sábado, 7 de junho, durante entrevista à imprensa ao concluir a primeira etapa de sua visita à França.
Lula explicou que a escolha de uma cidade amazônica para sediar a COP visa apresentar ao mundo, de forma autêntica, as características singulares do bioma que precisa ser protegido. Essa preservação depende, em grande parte, de aportes financeiros já prometidos — mas ainda não realizados — pelos países desenvolvidos, especialmente os que geraram uma “dívida ecológica” durante sua industrialização.
“Quero que o mundo enxergue a verdadeira Amazônia, porque muitos acham que é só uma floresta. Não é. São 30 milhões de habitantes. Entre eles, há pessoas que vivem na miséria. Há seringueiros, extrativistas, indígenas, pescadores, pequenos produtores rurais”, destacou o presidente. “É preciso entender que os países ricos têm um passivo ambiental porque se industrializaram há mais de dois séculos com base na emissão de carbono. Agora, precisam contribuir para a descarbonização”, defendeu.
Segundo especialistas, a conta ambiental já ultrapassa 1 trilhão de dólares para a implementação das ações necessárias ao controle do aquecimento global. “Se tivessem agido no tempo certo, o valor não seria tão alto. Mas deixaram acumular. Não pagaram uma parcela, depois outra, e agora a dívida cresceu. Na COP, saberemos se querem realmente tratar esse assunto com seriedade”, afirmou Lula, que tem destacado, em suas viagens internacionais, a importância da presença dos líderes globais no evento na capital paraense.
Para o líder brasileiro, a distância entre os acordos assinados e os recursos efetivamente entregues demonstra a necessidade urgente de reformar os organismos multilaterais. “Se não houver uma governança global representativa, com poder decisório e mecanismos de fiscalização, nada muda. Por isso, estamos tentando criar condições para uma mudança de paradigma ao discutir a crise climática. Precisamos de mais seriedade, mais comprometimento.”
Lula lembrou que o Brasil, no tema ambiental, tem liderado com exemplos concretos, como o compromisso de eliminar o desmatamento da Amazônia até 2030, o uso amplo de fontes renováveis em sua matriz energética, o fortalecimento dos órgãos de fiscalização ambiental e a apresentação das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) com metas ambiciosas de corte nas emissões de gases de efeito estufa — entre 59% e 67% até 2035. “Não é fácil, mas assumimos esse desafio sem que ninguém pedisse. Agora queremos saber se os demais países terão a mesma atitude”, destacou o presidente. “Os cientistas não estão exagerando. Estamos vendo calor extremo, inclusive na Amazônia.”
No enfrentamento do desmatamento e das queimadas, agravadas pelos períodos prolongados de seca na região, Lula ressaltou a importância da parceria com estados e municípios. “Estamos fortalecendo o diálogo com governadores e prefeitos, pois, se eles não estiverem juntos, não vamos vencer essa batalha. O prefeito é quem sente primeiro o cheiro da fumaça e sabe se o fogo foi acidental ou criminoso”, afirmou. Ele também destacou o investimento de quase R$ 1 bilhão para reforçar a equipe do Ibama e os sistemas de monitoramento e fiscalização.
De Paris, Lula seguiu para Nice, também na França, onde participará da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, voltada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14 da Agenda 2030, que trata da conservação e uso sustentável dos mares e recursos marinhos. O presidente fará um discurso na sessão de abertura.
Com quase 8 mil km de litoral, o Brasil é um protagonista nas questões relacionadas aos oceanos. O país abriga uma rica biodiversidade marinha e costeira, além de comunidades tradicionais que dependem diretamente desses recursos. “O oceano é um bioma crucial para o planeta. Muitas vezes achamos que ele é grande demais para ser afetado. Aí jogamos plástico, esgoto… um dia o mar se revolta e cobramos o preço, inclusive no turismo”, concluiu o presidente.