As jornalistas Cláudia Kanoni e Aline Reis lideram a produção de uma obra que reúne perfis jornalísticos e escrevivências capazes de reconfigurar o olhar sobre política, cultura e sociedade. Resultado de dois anos de trabalho, o livro “Mulheres com N Maiúsculo: Perfis Jornalísticos e Escrevivências Negras”, da Editora Arte & Letra, será lançado oficialmente na próxima terça-feira, 18 de novembro, às 16h, na Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), em Curitiba, durante o Seminário “Vozes Negras”, em celebração ao Mês da Consciência Negra.
Coordenada por Cláudia Kanoni e Aline Reis, a publicação apresenta perfis e escrevivências de 31 mulheres negras que se destacam em diversas áreas — do parlamento aos quilombos, da academia à cultura — e que têm transformado modos de pensar o mundo a partir de epistemologias negras, femininas e plurais.
Escrito por um coletivo de dez mulheres negras, entre jornalistas e pesquisadoras, o livro é um ato político que celebra memória, resistência e potência intelectual. Inspirada no conceito de escrevivência, de Conceição Evaristo, a obra une vida e escrita como ferramentas de luta, cura e afirmação. O título — “Mulheres com N Maiúsculo”, e não M — reforça a centralidade da raça, além do gênero, na construção das existências negras. “Este livro é uma denúncia e celebração. Denúncia porque escancara o racismo estrutural, o sexismo e as múltiplas opressões; celebração porque afirma o direito à memória, à ancestralidade e à autoria coletiva”, afirma a jornalista e pesquisadora Cláudia Alexandre no prefácio.
A obra discute temas que atravessam a experiência das mulheres negras no Brasil contemporâneo: território, corpo, religiosidade, artes, educação, política, saúde e cotidiano. O projeto propõe um deslocamento simbólico e epistemológico — onde a sociedade hegemônica enxerga ausência, as autoras revelam potência, transformação e emancipação. “Entre as lideranças retratadas estão mulheres que atuam na formulação de políticas públicas pelo Bem Viver, na defesa dos direitos humanos e no combate ao racismo institucional”, destaca Cláudia Kanoni.
No campo da educação, a obra reitera a importância de uma abordagem antirracista e convoca a população branca a assumir responsabilidade na luta contra o racismo. Já no universo acadêmico, posiciona corpos dissidentes como produtores legítimos de conhecimento.
A arte e a cultura surgem no livro como tecnologias de resistência e cura: samba, bailes black, rap, fotografia e teatro são retratados como quilombos urbanos, espaços de partilha e afirmação identitária. “Mulheres pretas contando suas próprias histórias nos levam para a dura e bela realidade do ser e estar no mundo nesta condição racializada”, afirma Aline Reis.
A publicação também homenageia mulheres que deixaram legado inestimável, como a jurista Dora Bertúlio, pioneira nas políticas de cotas no Brasil, e a professora Diva Guimarães. Ambas contribuíram para a obra, mas faleceram durante o processo de produção.
Estrutura da Obra
As histórias das perfiladas são narradas por dez autoras e comunicadoras negras: Aline Reis, Ana Carolina Franco, Ana Carolina Pacífico, Ana Claudia Justino, Cláudia Kanoni, Débora Evellyn Olimpio, Evelin Moreira, Letícia Costa, Mônica Ferreira e Sandy Silva. O perfil jornalístico foi escolhido por unir apuração rigorosa e profundidade narrativa.
Os temas percorrem território, religiosidade, artes, política, saúde, esporte, comunicação e questões sociais — sempre reconfigurando o olhar sobre a experiência negra brasileira.
Temas Abordados
Luta e Emancipação: agroecologia como resistência; defesa das vidas negras; ativismo na infância; combate ao racismo na escola.
Cultura e Identidade: literatura negra; bailes black; ancestralidade; cultura popular e samba; fotografia e hip hop.
Educação e Academia: educação antirracista; desafios de pessoas negras e trans na academia; teatro e educação afroindígena.
Saúde e Bem-Estar: representatividade de médicas negras no SUS; estética negra e fortalecimento da autoestima.
Política e Reparação: Bem Viver; combate ao racismo institucional; políticas públicas de cotas; acesso à justiça.
Território e Meio Ambiente: quilombos; racismo ambiental; justiça climática nas periferias.
Gênero e Sexualidade: desafios da existência lésbica negra; direitos humanos.
Comunicação: presença e trajetória de mulheres negras no jornalismo brasileiro.
Esporte: desafios de mulheres negras no futebol.
Questões Sociais: xenofobia; cotidiano e estratégias de sobrevivência das mulheres negras brasileiras.
Serviço
Lançamento oficial – “Mulheres com N Maiúsculo: Perfis Jornalísticos e Escrevivências Negras”
Data: 18 de novembro, às 16h
Local: Sala de Sessões do TRE-PR, Rua João Parolin, 224, Curitiba – PR
Preço: R$ 89,00
Mais informações: arteeletra.com.br







